segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Crônicas do Professor Altair Malacarne - Mofofô.



MOFOFÔ


Em 1948, Heitor Alencar, um madeireiro de Colatina, botou a 1ª linha de transporte coletivo de passageiros entre Colatina, já capital da Região Noroeste do ES,  São Gabriel da Palha e Nova Venécia.  No trajeto, ela passava pelo córrego Sabiá de baixo, onde moravam  as famílias  Dalfior e  Pedruzzi. Ali morava também o ‘MOFOFÔ”.

Naquele tempo, eram 3 os responsáveis pelos serviços no veículo de transporte dos passageiros:
1.      O motorista (‘chofé').
2.      O trocador(também chamado ‘condutor’).
3.      O bagageiro (encarregado de acomodar as bagagens sobre o ônibus).

Mofofô era o homem das bagagens. HOMEM, ou quase homem. Baixinho, magrelo, feio. Tinha, de nascença,  uns  olhos que quase não se abriam. Parecia um chin mal feito. Parecia um mofofô, um gongolo sem olho que dá no pau podre. O pessoal gritava: ‘ABRE O’ZÓI MOFOFÔ!!!...”. Usava óculos escuros pra disfarçar. No tempo das chuvas, era o primeiro a arregaçar as mangas da camisa e raspar o barro para desatolar o carro.

Amigo de todo mundo, batia no teto da carruagem para que parasse e atendesse alguém à beira da estrada. 

Nem sempre era um passageiro, mas alguém encomendando um remédio ou querosene.

Nas cabeças da ponte de Colatina, havia 2 guaritas que comandavam a alternância de sentido do tráfego em pista única. O carro parava, Mofofô descia pela escada de ferro parafusada atrás do veículo, se postava na sua frente e, com o boné, saudava um por um os veículos que vinham em sentido contrário.  Depois vinham as compras das encomendas. Ao final do ano, sempre havia as ‘festas’ e ele se desvelava ainda mais.

Muitos anos depois, eu o encontrei pelas ruas de Colatina, vivendo modestamente, como sempre. Andava arrastando os pés, levantando sempre mais a cabeça para conseguir ver os objetos à sua frente. Passava devagar, cumprimentava minha mulher e seguia seu caminho. Caminho que era a continuação de tantos outros percorridos no passado;  ele ainda habita no cantinho da memória dos antigos moradores da linha pioneira;  Mofofô é imortal.


Altair Malacarne, 30.08,  24.10 e 26.10.2013


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